Fugir é inútil. Desistir da peregrinação é se acovardar de crescer na/pela fé. A tempestade não é úmida, é seca. O chão está rachado, devido a falta de chuvas que saciam a sede da vegetação. Será que isto é um indício de que a morte é a única solução? Não. Um nômade nunca se deixa vencido, não porque o mesmo é forte para enfrentar tudo por sua própria capacidade meramente humana, mas por acreditar que há um Criador que o está sustentando, mesmo com a precariedade de água e alimento. O olhar de quem o Criou com as suas próprias mãos gera resistência na alma. O corpo pode reclamar da ausência de nutrientes, mas a vida que está além do mero maná, é o único que pode suprir as faltas de um ser humano inteiro. É claro que tudo isto escapa da lógica e da racionalidade humana. É algo que desequilibra, atormenta e tenta a vida de um nômade. É mais confortável viver próximo de um rio e ter abundância de alimentos, mas enfrentar o nada ou o pouco e ainda se contentar com a situação, só suporta quem tem às vistas voltadas para o céu e nada mais. Esta é a provação!
Caminhar em direção ao Sol, sem se preocupar se amanhã haverá água para se saciar ou alimento para preencher o estômago dolorido de fome. Andar com pequenas feridas e várias bolhas desenvolvidas no pé, dado a hostilidade do ambiente. Ali, um nômade tem que buscar a voz que vem do céu e tentar discerni-la em meio as tentativas de levá-lo a um paraíso holográfico – ilusório. Durante a caminhada, haverá tentações. Não são Daquele que o sustenta; até porque o próprio Criador não leva as suas criações feitas de barro para a zona da impulsividade irracional e puramente enlaçada numa dimensão emocional-instântanea. Não… o Mistério por trás de todo big bang não tenta as suas artes moldadas por suas próprias mãos. Mas! Há uma vontade oposta no mundo, que pode, às vezes, fazer o nômade pensar que é do querer do seu Criador, a desistência ou o retorno Daquela velha criação humana. Só que existe um impasse: quem tem uma relacionalidade filial com o seu Criador, não corre o risco de cair em tentação. Pois se é conhecedor do caráter De Quem o Modelou por suas próprias mãos, sabe discernir a voz paterna-e-materna que o leva a resistir em graça.
No deserto, existem criaturas de todo tipo. Criaturas feitas do mesmo barro que um nômade, com a exceção de que escolheram se rebelar e viver como senhores de si mesmos. Aquele que supre as necessidades do nômade é tão cheio de amor e misericórdia pelas suas criações, que não as obriga amá-lo como deveria ser amado e acolhido em seu ser. A escolha é uma demonstração de amor do Criador por suas criações; só não podem culpá-lo se as coisas da vida derem errado… até porque, se escolheu uma trilha oposta daquela que o Criador projetou para a sua criação, realmente haverá consequências. As criações não sabem lidar com os conflitos, com as ambiguidades e nem com as contradições que a própria condição humana acarreta. Tentam acreditar que são autossuficientes de seu Criador e também, uns dos outros. Contudo, a verdade por trás de tudo isto é que as criações se apaixonam pela fugacidade temporal, pela beleza momentânea e pelas suas autoimagens trabalhadas na roda de cerâmica. A força de amar o que é passageiro, faz as criações se afastarem de seu Criador. Isto, porque querem viver do ver, do tocar, do saborear, do andar e do sentir. Não querem esperar pela glória da eternidade e pela coroa da vida. É aí, que está as tentativas de querer desviar um nômade do caminho, que não é seguido por uma bússola humana, mas por uma voz que vem do céu e que é testificada na Palavra gravada como um selo sobre o seu coração.
O nômade que ousa viver com o crer sem ver, não precisa de coisas em sua vida. Basta ter o seu Criador como o centro de sua vida, como a luz que ilumina os seus caminhos, como a água que nunca dá sede e como o maná que não gera fome. O caminho do nômade é feito de esperas que não são paradas ou pausadas, mas se faz tornando-se enquanto se caminha com o seu Criador. A esperança é dinâmica, é como uma dança ao som de uma música suave e serena. O nômade que não cede as investidas de algumas criações que se deixam ser agentes das sombras, caminha com paciência, alegria e paz em seu ser, porque sabe que o importante não é a chegada ao céu, mas a caminhada perseguida ao lado de seu Criador, refletido em seu filho carpinteiro e com uma brisa aveludada envolvendo como um abraço amigo e consolador.
Provação não é um sofrimento para um nômade, mas uma alegria plena. Nela, se vive um favor imerecido, mas que pela força do amor filial, tudo se é apagado. O perdão faz um inimigo em um irmão. O perdão faz um filho rebelde em um filho acolhido e recebido com as melhores roupas e comidas. Tudo, porque o arrependimento, a humildade e a sinceridade de se reconhecer imperfeito e imerecedor de um amor, move as entranhas paternas-e-maternas do Criador. Tal noção só o vento pode trazer esclarecendo sobre a letra da Palavra! Pode ser que um nômade não tenha feito nada em sua vida fora daquilo que já foi prescrito e alertado como infração na Lei, mas as feridas em seu corpo adquiridas pela caminhada rumo ao céu, causaram intensas dores e tais, fizeram-no distanciar das pessoas por medo de ser rejeitado novamente por amor que nutre pelo seu Criador, que é como um pai-e-mãe. Provação é um lugar de tratamento. Somente a saliva do carpinteiro pode cicatrizar as feridas com apenas um toque. Provação é a cura de uma alma pequenina aos glaucos olhos dos que querem ganhar o mundo, disfarçados em uma fé messiânica, que mascara a sua tendência nacionalista de querer ser o “dono do mundo” em nome do seu Criador; o que significa que deseja tomar o senhorio De Quem Criou o universo pela sua Palavra!
Um nômade que tem uma relação filial com o seu Criador sabe que tem um pai-e-mãe sempre por perto como o seu guarda, que o protege das bestas-feras que possa tentar matá-lo ou dos agentes das sombras que lançam feitiços sobre o seu ser, ousando em acreditar que os pães e os reinos farão um filho ou uma filha adotados, acolhidos e (re)nascidos no ventre de seu Criador, ceder ao desejo da necessidade. A Palavra criadora daquele que é o Senhor de tudo, gera alimento, água e tenda para aqueles/aquelas que em ti confiam a sua vida inteira. Isto é ser provado por um fogo, em que o próprio Mistério não permite que as chamas o queimem, mas que embeleza lapidando o seu ser e o seu caráter diante da cidade dos filhos de Dionísio e das filhas de Afrodite.
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