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Mostrando postagens de 2018

A fraqueza como ‘poder’ de dizer a si mesmo: “Está doendo muito!”

Na presente reflexão, não tenho a pretensão de fazer uma análise exegética e nem tanto ‘teológica’ de 2 Coríntios 12. 1-10. Na verdade, minha intenção é fazer uma reflexão parcial acerca do ‘espinho’ ou ‘aguilhão’ na carne do apóstolo Paulo, que é narrado nesta epístola. Meu interesse parte da premissa de que muitos cristãos ou até pessoas desvinculadas de uma religiosidade, acreditam que a vida é só de bençãos ou felicidades. Se algo ruim lhes acontecer ou acordarem naqueles dias em que ‘o nada nadifica a alma’, elas precisam se submeter à ‘corrente/campanhas de orações ou preces fortes’ ou à medicamentos que possam libertar-las da angústia de ser , um humano . Como teóloga e estudiosa das Escrituras Sagradas, não consigo enxergar naquela, passagens de pessoas que só vivem felizes, alegres e sem derramar uma só lágrima. Pelo contrário, a Bíblia é composta de duros sofrimentos, lamentações, choros e muita dor. Mas, a diferença é que os homens e as mulheres nos relatos bíblicos

A musicalidade do Café Triste de Carson McCullers

   Num lindo sábado de sol, haviam pessoas nadando ou se bronzeando no sol perto de meu lar, enquanto eu estava deitada na rede com uma 'preguicinha gostosa'. E quando estou bem à toa, é normal pegar o kindle e começar a ler alguma literatura. Neste dia, resolvi ler o romance curto de Carson McCullers, chamado de A Balada do Café Triste (1943). Sinceramente não esperava grandes prodígios no romance, mas eu me enganei a tal ponto, que o li todo no mesmo dia por causa de minha insana curiosidade pelo final da história.    O romance curto parece pertencer ao subgênero gótico sulista , pois expõe personagens excêntricos que podem apresentar papeis de gênero ambivalentes, cenários abandonados que evocam situações de violência, pobreza, crime ou alienação social e cultural. No fundo da obra de McCullers, é perceptível os valores sociais e culturais do sul estadunidense, incluindo as hostilidades raciais e a decadência da plantação no sul pós-Guerra Civil.   Bom, o romance gira

Adoecendo, brinque como uma criança!

Ultimamente, tenho percebido como as pessoas se abatem ao descobrir uma enfermidade, seja psíquica ou corpórea . Ficam desesperadas ou angustiadas pelo diagnóstico recebido, sejam por uma doença crônica, aguda ou degenerativa. De fato, a doença enquanto tal é uma maneira do ser humano dialogar com o mundo, o que expressa os sentimentos, conflitos e vivências diante da busca pela compreensão da doença em si próprio. Isto, porque o ser humano não adoece só corporalmente, esse adoece como uma totalidade . Assim, a enfermidade corpórea ou psíquica expõe a forma que uma pessoa se coloca no mundo.  Afinal, o que o adoecer representa para o ser ? O adoecimento  desperta no humano uma questão que envolve o reconhecimento de sua finitude e sua impotência perante a morte, o que permite desenvolver muita angústia. Não somos ensinados a lidar com a morte e devido a isto, a essência da morte é a perda do significado da vida que é tirada do ser humano com a sua própria morte. Daí, o ser huma

Zoé e Biós: formas de significar a Vida na Bíblia

O teólogo jesuíta ítalo-catalão Javier Melloni, em sua obra intitulada Hacia un Tiempo de Síntesis , escreve sobre a designação da palavra vida na língua grega: Em grego existem duas palavras para dizer "vida": "biós" e "zoé". "Biós" é uma das formas possíveis da vida integral. Foi criada a partir da diversificação das espécies e da individuação de membros no interior de cada espécie. "Biós" está no reino da individualidade e da diversidade. "Zoé" é a vida que nos atravessa a todos. A nossa singularidade biológica é apenas uma das possíveis manifestações de "zoé". Nas suas fases mais imaturas, o nosso pequeno eu aferra-se à vida à custa de exterminar outras formas de existência. Crescer em consciência significa perceber que todos participamos da mesma vida (zoé) que apareceu na terra e que transcende o próprio planeta. Quando ficamos reduzidos à nossa dimensão "biológica" individual, apenas lutamo

Sou uma carta viva para o amor e não, para a morte!

1 de dezembro, 2018.     Não sei como iniciar esta carta. Meus sentimentos acerca da minha vida são negativos... Não tenho força para escrever o que está em meu coração. Não tenho vontade de viver. Sinto-me apenas como um ser existente e que está aí, jogado no mundo. Mas... O que é um ser-aí, jogado no mundo? O que é viver, exatamente?  Sabe, a minha intenção, nesta carta, era de declarar o porquê do meu suicídio e me despedir daqueles que amo. Contudo, minha mente não deseja partir... Minha razão me diz para viver, ficar e caminhar... A morte, escolhida por mim como uma solução dos meus problemas, não só matará a mim mesmo. Na verdade, aqueles que eu amo morrerão juntamente comigo. Estou começando a achar, que sou uma pessoa egoísta e narcisista. Sim! Porque eu só enxergo os meus problemas e não vejo que as pessoas têm os seus conflitos e atritos e, mesmo com tais, vencem obstáculos com ajuda e auxílio daqueles que as amam, que as querem amar e principalmente, daquele que é

Ai, que tédio do presente, do futuro e... da morte!

O futurologista Ian Pearson prevê que, no ano de 2060, a engenharia genética garantirá a reversão do envelhecimento das células, burlando o ser humano da morte e prologando a sua expectativa de vida a todos de classe alta a média. Ao lado desta novidade científica, as pessoas poderiam se tornar imortais através da conexão de suas consciências com uma rede internacional. Ao terem falência em seu corpo, elas poderiam fazer um simples ‘download’ dos pensamentos em androides, assegurando também uma forma de concertarem os seus corpos em vista de rejuvenescê-los. Aliás, os indivíduos ainda teriam a possibilidade de ligarem as suas mentes em máquinas computadorizadas e viveriam numa espécie de “nuvem” [1] . É claro que os latinos e os brasileiros não perderiam tais oportunidades de se manterem vivos, pois certamente a publicidade e o marketing já estariam preparando aqueles para uma singela recepção divinizadora de criação e os instigaria através de seu poder de manipular decisões por

Dia e Noite, Verão e Inverno, Outono e Primavera, Guerra e Paz... Tudo tem o seu Tempo!

"Há um momento para tudo e um tempo  ( ע ת )  para todo propósito debaixo do céu . Tempo de nascer , e tempo de morrer ; tempo de plantar , e tempo de arrancar a planta . Tempo de matar , e tempo de curar ; Tempo de destruir , e tempo de construir . Tempo de chorar , e tempo de rir ; tempo de gemer , e tempo de bailar . Tempo de atirar pedras ; e tempo de recolher pedras ; tempo de abraçar , e tempo de se separar . Tempo de buscar , e tempo de perder ; tempo de guardar , e tempo de jogar fora . Tempo de rasgar , e tempo de costurar ; tempo de calar , e tempo de falar . Tempo de amar , e tempo de odiar ; tempo de guerra ,  e tempo de paz . Que proveito o trabalhador tira de sua fadiga? Observo a tarefa que Deus deu aos homens para que dela se ocupem: tudo o que ele fez é apropriado em seu tempo . Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo , sem que o homem possa atinar com a obra que Deus realiza desde

Verdade, Objetos, Significado e Referência: o que Gottlob Frege tem a nos dizer?

Aos moldes da Filosofia da Linguagem, a verdade encontrada nas afirmações é advinda da referência. Tal é assumida, porque as palavras e as afirmações se tornam aptas para estabelecer a verdade das coisas mundanas, em razão da referência que possuem. É possível afirmar que as palavras possuem uma “ligação” com os objetos do mundo, o que indica que os objetos (Vaclav Klaus e Montanha de Ouro) são tomados como nomes próprios e são expressões paradigmáticas da referência, mesmo que não seja relevante considerar que todas as palavras são referenciais, sendo algumas ligadas aos objetos da realidade [1] . Consoante a isto, Gottlob Frege (1848-1925) busca em seu artigo intitulado Sobre o Sentido e a Referência (1892) [2] , compreender o significado das sentenças a partir da relação entre a linguagem e a realidade, o que deriva a duas questões indicativas para o presente texto: o que faz com que as afirmações sobre os objetos sejam verdadeiras? Qual é a relação que existe entre o signific