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Mostrando postagens de outubro, 2018

Quando o coração se aquece com a presença do Totalmente Outro...

Todas as vezes que estou na garupa de uma moto ou como passageira de um ônibus/carro, vêm sempre na minha memória as experiências que tive com o divino . Posso até dizer que, sinto-o no meu cotidiano, percebendo sua presença constantemente no mundo e nas relações sociais, mesmo que as forças do mal urgem desesperadamente. Com todas essas manifestações do divino na minha vida e no mundo, o meu coração se sente aquecido, como se tivesse uma chama de fogo dentro dele.  É curioso que o fundador do movimento metodista John Wesley teve uma experiência em sentir o seu coração aquecido, através da leitura de um comentário escrito pelo reformador Martinho Lutero sobre a Carta aos Romanos . Como estava frustrado com a viagem missionária que havia feito nos Estados Unidos ao lado de seu irmão, Wesley sentiu o seu coração aquecer com aquela leitura, porque havia compreendido a essência do Evangelho de Cristo, renegando toda a sua confiança nas suas próprias obras, passando a depositar to

Castelo Forte e Bom de Martinho Lutero: o Deus que é refúgio e força nas adversidades

Quando eu era criança, escutava meu avô materno cantarolar o hino de Martinho Lutero, intitulado Deus é castelo Forte e Bom . E cresci ouvindo-o com muito apreço e gosto, não por ter sido escrito por um dos teólogos e pregadores do Evangelho da Graça de Cristo Jesus que mais admiro e aprecio, mas por expressar uma confissão de fé em Deus simples, forte e confiante. Na verdade, o hino de Lutero é uma paráfrase do Salmo 46 e procede do Canto Gregoriano, cuja tematização é sobre a confiança em Deus acima de todas as circunstâncias e adversidades da existência humana. Reconhecendo a temática do hino Castelo Forte e do Salmo 46 , o presente texto fará uma reflexão breve acerca da relação das duas expressões hinológicas e a sua contribuição à   nossa vida cotidiana. Tanto no hino de Lutero quanto no Salmo 46, a presença mítica é marcante. Antes de desenvolver a reflexão sobre tais expressões hinológicas supracitadas, é preciso afirmar que o mito não deve ser interpretado como algo me

A culpa não é de Deus... É minha!

       Às vezes, eu, P. Roberto, me pergunto: por que abato tanto o meu coração com coisas vãs?  Por que não consigo enxergar que na liberdade está Deus? Por que me aprisiono em gaiolas, produzidas pelo homem? Por que tomo as verdades dos homens como as minhas?  Por que não consigo enxergar o horizonte amigo, o sol a brilhar, as estrelas a radiar e a lua iluminar?    A liberdade está no amor de Deus. Deus liberta o humano das gaiolas dogmáticas da religião. Deus liberta o homem da sabedoria dos cientistas, para viver a liberdade da loucura de ser livre na gratuidade divina. Quando o homem se perde no horizonte do humano, Deus o resgata ao encontro de si mesmo, pois é através do encontro é que se encontra o amor divino e graça. Encontrando a si mesmo por meio do processo de ser livre, começa-se a caminhar pela graça do caminho. Caminho sem começo, sem meio e sem fim. Não precisa de início e nem de finalização, pois a graça divina encerra em si mesma. Deus dá a liberdade para

Rachel Speght, a mulher que rompeu as fronteiras teológicas dos reformadores

Retratos da condessa de Granville e as senhoras Victoria e Mary Leveson-Gower de Charles Perugini , 1891. A filha do pastor inglês de tradição calvinista James Speght, chamada de Rachel Speght, é reconhecida por sua contribuição significativa ao discurso protestante frente à exegese bíblica, influenciando muitas mulheres jacobinas da época, que estavam desafiando a hierarquia entre os sexos. Foi uma das primeiras mulheres a usar seu próprio nome como autora perante uma época em que a maioria das mulheres escreviam seus escritos, utilizando pseudônimos masculinos, mantendo-se no anonimato.   O que ocasionou Speght a publicar obras em defesa das mulheres, ao largo do ano de 1617, foi uma obra misógina intitulada The Arraignment of Lewde, Idle, Froward and Unconstant Women: Or the wanitie of them, choose you whether , escrito por Joseph Swetnam com o pseudônimo de Thomas Teltroth, no ano de 1615. Tal tratado de Swetnam reflete a tradição literária misógina da época, onde se encont

Será que a Infância seria um conceito filosófico capaz de resgatar o que está perdido no humano contemporâneo?

(Re)conhecendo que a infância é uma construção social moderna, essa se torna passível de reflexão filosófica, porque a própria infância é uma "pré-condição" filosófica . Nas palavras de Kohan, a filosofia e a infância exalam o [...] pensar de verdade, pensar-se a si mesmo, fazer da filosofia um exercício de se colocar a si mesmo em questão exige, a cada momento, ir até a mais recôndita infância do pensamento, começar a pensar tudo de novo como se nunca tivéssemos pensado, como se, a cada vez, estivéssemos pensando pela primeira vez. (KOHAN, 2015, p. 217). Retirar a infância do seu "lugar comum" normalizado, racionalizado e organizado pelas concepções dos modernos, permite uma desconstrução da categorização cronológica da existência humana e de sua caracterização unívoca. Isto, porque o conceito de infância possibilita enxergá-la das seguintes formas: (1) ôntico , do qual problematizo o lugar que a "criança concreta" tem sido colocada na cont

Wittgenstein para os íntimos: proposição, pensamento e a realidade das coisas

Ludwig Wittgenstein (1889-1951), filósofo significativo para os estudos da Filosofia da linguagem, no prefácio de sua obra Tractatus Logico-Philosophicus , afirma que pretende [...] estabelecer um limite ao pensar, ou melhor, não ao pensar, mas à expressão do pensamento, porquanto traçar um limite ao pensar, deveríamos poder pensar ambos os lados desse limite (de sorte que deveríamos pensar o que não pode ser pensado). O limite será, pois, traçado unicamente no interior da língua; tudo o que fica além dele será simplesmente um absurdo [1] . Consoante as suas palavras, Wittgenstein consiste em estabelecer os limites do que se deixa expressar por meio de proposições dotadas de sentido. Isto, porque ele acreditava que ao traçar os limites do discurso significativo estaria também traçando os limites do pensamento, já que este é considerado conteúdos proposicionais. Nesse sentido, o Tractatus tenta determinar os limites daquilo que pode ser pensado, por meio de uma delimitaçã