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Mostrando postagens com o rótulo Producoes-filosoficas

Noção básica sobre "poder" em Michel Foucault

  A concepção foucaultiana de poder atravessa pelas questões que envolvem a sua crítica ao economismo em sua concepção liberal, jurídica (o poder é considerado um direito) ou marxista (funcionalidade econômica); ao caráter totalitário, reducionista do saber e dos discursos científicos, ao seu modo inverso de pensar acerca do poder, relativizando-o; ao seu resgate dos saberes que estão “mais ou menos” sujeitados; e ao realizar uma genealogia que se direciona ao inter-relacionado entre poder e saber. Em linhas gerais, Foucault argumenta que o poder são formas díspares e heterogêneas em contínua transformação. Por interpretá-lo de modo inverso (assim, como Nietzsche), o poder é uma prática social e constituída historicamente. O poder como símbolo, na concepção foucaultiana, é uma dimensão exclusiva do ser humano, pois aquele pode estar associado nas práticas de dominação como também conota uma dimensão humana criativa e indefinível. Ao fazer críticas ao economismo, o filósofo francês

O mistério entre os “Adãos” e as “Evas”: uma leitura de Gênesis 2.18,21-24

  O presente texto visa o contexto veterotestamentário, não em sua perspectiva exegética, mas interpretativa .O meu objetivo é trazer uma reflexão teológica/filosófica sobre o texto de Gênesis 2.18,21-24.  Vamos ao escrito : Iahweh Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda”. […] Então, Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: “Esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!” Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à mulher, e eles se tornam uma só carne . (Trad. Bíblia de Jerusalém). Neste texto bíblico, Leonardo Boff observa que é errôneo dizer que Deus criou Eva da costela de Adão. Na verdade, na língua hebraica utiliza-se a palavra zela , que sign

As roupas falam: uma leitura filosófica de “As Roupas fazem as pessoas” de Gottfried Keller

  Neste conto, o autor suíço escreve sobre a mudança de vida do alfaiate Wenzel Strapinski, quando foi reconhecido como conde por causa de suas roupas – um sobretudo cinza escuro recoberto de veludo preto, gorro felpudo polonês, cabelos ondulados e bigode negros alinhados. O interessante desta história é que o protagonista não tinha intenções de passar-se por um “conde estrangeiro”; o que dá a impressão de que ocorrera de forma acidental. As próprias pessoas – homens da aristocracia e a classe burguesa daquela sociedade – interpretaram, por meio de suas roupas, que era um homem de fortuna. Caro leitor e querida leitora, não é da minha intenção contar-lhe toda a história ( o legal seria vocês lerem, viu! ), mas pontuar aspectos que nos permitem fazer uma leitura filosófica a respeito do próprio tema que gira a obra: as roupas fazem as pessoas . Andando pela estrada como um “mendigo”, o alfaiate deparou-se com uma carruagem nobre pertencente a um conde. Gentilmente, o cocheiro oferec

Para falar da vida, deve-se dizer sobre a morte

  A vida inaugura-se com o nascimento, findando-se com a morte. Parece loucura, caro leitor e querida leitora? Mas, não o é. A vida e a morte são dois “irmãos”, que somente o ser humano tem consciência de suas existências. E o que a morte pode ensinar? Você, caro leitor e querida leitora, pode achar que a minha pergunta não passa de um absurdo. Ou, que eu possa estar exaltando mais a morte do que a vida. Mas, saiba que, mesmo que ainda não experimentemos dela, a morte tem os seus ensinamentos próprios, que podem vir só de uma singela reflexão ao seu respeito ou quando nos deparamos com a partida de alguém próximo de nós. Blaise Pascal, filósofo francês, nos alerta que o ser humano busca alternativas para não pensar em sua condição temporal – de que um dia morrerá. Como uma maneira de escape, ocupa-se sobrecarregando-se de trabalhos, negócios, encargos, acúmulo de capital, honrarias e reconhecimentos. Inventa-se uma “fórmula” de felicidade, que acaba se tornando uma corrida contra u

Beleza – Deus – arte – cultura: o que (com)partilham e relacionam-se?

  Particularmente, aprecio muito esta ideia de Rubem Alves: “A beleza é a face visível de Deus” . Nesta, observo que admirar a beleza sagrada está além do que teologizam dele. Na verdade, a beleza de Deus manifesta-se neste mundo, conforme a leitura do Salmo 104 . Quão numerosas são tuas obras, Iahweh, e todas fizeste com sabedoria! A terra está repleta das tuas criaturas. (Sl 104. 24 – Bíblia de Jerusalém). Quando falamos de Deus, claramente referimos as belezas deste mundo, atribuindo-lhe o fundamento e a fonte de toda glória e majestade estética, artística. Mas, se a beleza da criação nos oferece uma ideia acerca de Deus, é bem possível que a sua intensidade seria insuportável a nós. Isto, porque a potência de sua “existência” e a densidade de seu Ser , desconcertar-nos-ia a nossa sensibilidade e inteligência. A respeito disso, o teólogo Jean Daniélou expõe que […] o belo é, às vezes, tão intenso que é insuportável. E é realmente verdade. Existem determinad

Locke x Rousseau: as semelhanças e as diferenças de seu modelo contratualista

O Contratualismo é um termo designado para toda teoria que propõe a pensar sobre a origem da sociedade e do poder político que está num contrato, um acordo tácito ou explícito entre os indivíduos que aceitam inserir nessa sociedade, se submetendo a tal poder. As filosofias de John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) são consideradas modelos contratualistas , o que será exposto no presente texto, as suas semelhanças e diferenças marcantes em suas teorias políticas. Inicialmente, Locke e Rousseau compartilharam da concepção, pela qual, os indivíduos isolados no estado de natureza se unem através de um contrato social para se constituir em uma sociedade civil. No entanto, Locke compreende que as leis naturais são noções de justiça que podem ser atingidas apenas com o uso da razão, o que o faz crer que todo homem já trás consigo essas noções, quando se encontravam no estado de natureza. O estado de natureza em Locke se diferencia em grande escala da noção de Rousseau, p

O Grito inaudível, retratado por Edvard Munch

  O Grito (1893) de Edvard Munch (1863-1944) Edvard Munch foi um artista, que representou a condição do ser humano moderno em um período temporal, em que não havia consciência de sua complexa situação-limite. Ele não pertenceu a nenhum movimento artístico, mas é considerado o precursor do expressionismo. O expressionismo pode ser visto como a expressão da distorção dos traços e das cores, simplificando-as em formas que causam um maior impacto emocional. É um estilo artístico que aparece em contextos de tensão emocional através de uma arte sombria com transfundo espiritual, que manifesta uma aversão ao processo de desumanização e ao progresso técnico. Conforme as palavras de Carolina Paula Gómez, o expressionismo estava procurando um olhar para dentro. Para os expressionistas, o gesto não se esgota no ato de ver, ele tenta rasgar o véu que se apodera da realidade só de olhar para ela, cavar sob sua casca e fixar a verdade. (GÓMEZ, 2016, p. 309). Os quadros de Munch expressam os sent